Teoria de Exemplares

introdução

Em breve.

1. A sílaba

Sílabas são obrigatoriamente constituídas de um pico, ou núcleo que pode ou não ser precedido e seguido de partes periféricas. Os núcleos no português são sempre preenchidos por vogais e as partes periféricas são preenchidas por consoantes.

Contudo, a proposta de partes periféricas e núcleo não explica nem porque esta é a organização que existe em todas as línguas e nem porque línguas diferentes organizam os mesmos segmentos na sílaba de maneira diferente.

 portuguêsinglês
ortografiavalevalley
fonética[ˈva.li][ˈvæl.i]

Considere os exemplos do português e do inglês em que a sequência de sons é bastante similar e o ponto (.) indica onde ocorre a divisão da sílaba. Observe que em português o [l] é parte da segunda sílaba [ˈva.li] e no inglês o [l] é parte da primeira sílaba [ˈvæl.i]. Nos dois casos uma vogal central baixa precede o [l] e uma vogal [i] o segue. A questão que se coloca é: por que a silabificação de sequências similares pode ser diferente em duas línguas.

A resposta é: porque a gramática fonológica determina a boa formação de sílabas na gramática de cada uma das línguas.

A Teoria da Sílaba tem início nos trabalhos de Kahn (1976) e Clements e Keyser (1983), mas com formalismo elementar em que cada segmento era associado a uma camada superior.

O mérito desta proposta foi de criar níveis de representação multinivelares. Assim, postula-se que há um nível segmental (dos sons) e um nível da sílaba (que é representado pela letra grega delta: δ).

Estudos posteriores consolidaram a ideia de vários níveis de representação e sugeriram um nível de Posições esqueletais que são representadas por (x). Cada posição esqueletal representa uma unidade que conecta o nível segmental aos constituintes silábicos.

2. cOnstituintes silábicos

São quatro os constituintes silábicos e suas abreviaturas: Onset (O), Rima (R), Núcleo (N) e Coda (C). A rima é sempre associada a um núcleo e pode opcionalmente ter a ela associada uma coda.

3. tipos de onset

Onsets podem ser simples ou complexos (ramificados). Uma sílaba como [ta] tem um onset simples e uma sílaba como [pla] tem um onset complexo. Onsets simples são associados a uma posição esqueletal e onsets complexos são associados a duas posições esqueletais.

4. consoantes complexas​

São consoantes que têm dois segmentos, mas se comportam como onset simples (ver acima) por serem associadas a uma única posição esqueletal. No português as consoantes complexas são tradicionalmente [kw, gw], mas [lj, tʃ, dʒ] podem ser também interpretadas como consoantes complexas.

5. tipos de núcleo

Núcleos podem ser simples ou ramificados. Núcleos simples são associados a uma posição esqueletal que é preenchida com uma vogal (monotongo) ou um ditongo leve (que se comporta como um monotongo). Núcleos complexos têm duas posições esqueletais e são também denominados ditongos pesados.

6. peso silábico

Silábas leves e pesadas são definidas a partir do número de posições esqueletais associadas à Rima. Em sílabas leves a Rima é associada a uma única posição esqueletal. Em sílabas pesadas a Rima é associada a duas posições esqueletais. Rimas com mais de duas posições esqueletais são raras (por exemplo: perspicaz, solstício).

7. categorias vazias

Categorias vazias foram postuladas pela Fonologia Gerativa. Contudo, foi na Fonologia Autossegmental que elas adquiriram estatuto teórico por serem sujeitas a princípios específicos, como, por exemplo ‘Princípio de Categorias Vazias’. A palavra ‘afta’ ilustra a categoria vazia Ø.

‘Princípio’ é um termo técnico importante na Fonologia Autossegmental por definir critérios de organização das representações lexicais.

8. representação lexical

Representações lexicais têm cada um dos segmentos vocálicos lexicalmente associados a uma Rima e, consequentemente a um Núcleo – como ilustrado abaixo.

A partir da representação lexical o ‘Princípio de Silabificação’ define a associação das demais posições esqueletais como Onsets ou Codas.

9. silabificação

A silabifiação tem estreita relação com a ‘Escala de Sonoridade’ que define os segmentos mais sonoros e os menos sonoros.

Princípio de Maximização do Onset

Define que consoantes intervocálicas dever ser consideradas preferencialmente como Onset desde que não viole a escala de sonoridade. Codas são avaliadas em seguida e a silabificação é concluída.

A palavra ‘planaltos’ tem três sílabas sendo cada uma delas indicadas por δ. Temos os seguintes sons associados aos constituintes silábicos Onset, Núcleo e Coda:

 sons
onset[p, l, n, t]
núcleo[a, ʊ]
coda[w, s]

Princípio do Contorno Obrigatório (mais conhecido como OCP [oseˈpe])

Proíbe sequências adjacentes de unidades idênticas nas representações fonológicas. Se dois segmentos idênticos ocorrem em posições adjacentes (como as consoantes geminadas ou as vogais longas), eles são a reduzidos um único segmento. Ou seja, há um só segmento associado a duas posições esqueletais.

No caso das consoantes geminadas observa-se a ambissilabicidade. Ou seja, o mesmo segmento é compartilhado por duas sílabas.

10. Processos fonológicos

Processos fonológicos como o de assimilação são explicados pela Teoria Autossegmental como casos de espraiamento ou propagação de propriedades – ou traços distintivos – para segmentos adjacentes. É o caso da nasalização de vogais. A propriedade de nasalização da consoante nasal espraia ou se propaga para a vogal adjacente.

Dois princípios são relevantes em caso de espraiamento ou propagação: Princípio de Direcionalidade e Princípio de Adjacência. O Princípio de Direcionalidade determina que o espraiamento ou propagação tenham direcionamento: esquerda-para-direita ou direita-para-esquerda. O Princípio de Adjacência determina que o espraiamento ou propagação ocorrem em posições esqueletais adjacentes.

O processo fonológico de apagamento segmental é compreendido como desassociação (delink). Neste caso, o segmento é desassociado de sua posição esqueletal e não tem manifestação fonética. Contudo, a posição esqueletal é preservada na representação fonológica.