Fonologia

O que é?

Fonologia é a ciência que estuda a organização gramatical dos sons das línguas. Transcrições fonológicas são apresentadas entre barras transversais: /…/ e refletem o conhecimento abstrato que o falante tem da sonoridade daquela língua. Transcrições fonológicas não são pronunciáveis.

Representações Fonológicas

As representações gramaticais da Fonologia recebem várias denominações dependendo do modelo teórico que as utiliza, como, por exemplo: representação fonêmica, representação subjacente, representação lexical, representação mental, output, gestos ou exemplares.

O conteúdo das representações fonológicas passa por procedimentos de análise que permitem que elas sejam pronunciadas. Na figura que segue a representação fonológica da palavra PLÁSTICO é apresentada como / ˈplaStiko/ e se relaciona com as diversas pronúncias que são apresentadas à direita.

O fonólogo deve buscar explicações para o fato das diversas pronúncias serem possíveis com ampla compreensão dos falantes das diversas formas fonéticas.

As representações fonológicas podem ser segmentais ou suprasegmentais. Representações segmentais consideram a representação abstrata dos sons. Representações suprassegmentais consideram a representação do ritmo e da entoação.

As representações fonológicas inúmeras vezes fazem uso dos mesmos símbolos utilizados pela Fonética e mesmo de símbolos que representam letras do alfabeto romano. É importante determinar o escopo de cada área para não confundir a interpretação dos símbolos utilizados em cada caso.

  • A Escrita é a representação da linguagem através do uso de símbolos relacionados ao sistema de escrita que pode ser logográfico (morfema), silábico (sílaba) ou alfabético (letras).
  • A Fonética é a ciência que apresenta os métodos para a descrição, classificação e transcrição dos sons da fala, principalmente aqueles sons utilizados na linguagem humana. A representação Fonética é entre colchetes […] e reflete uma pronúncia possível da língua em questão
  • A Fonologia é a ciência que investiga o componente gramatical sonoro das línguas naturais do ponto de vista organizacional e explica alternâncias sonoras possíveis nas línguas, quais sequências sonoras são possíveis ou não e como os sons se relacionam com o restante da Gramática: Morfologia e Sintaxe.

Temos, portanto, três sistemas simbólicos:

Letras refletem unidades do sistema de escrita e podem ser maiúsculas ou minúsculas ou podem ser de forma ou cursiva. Tem grande variabilidade na maneira de se escrever cursivamente. Contudo, tipograficamente a imprensa em geral utiliza um mesmo conjunto de símbolos que pode ter fontes diferentes.

Sons refletem símbolos propostos pelo Alfabeto Internacional de Fonética (IPA) e têm correlatos articulatórios e acústicos que descrevem suas propriedades. Sons são representados entre colchetes […]. Em princípio, somente os símbolos do IPA deveriam ser utilizados nas representações fonéticas. Contudo, símbolos alternativos ocorrem poucas vezes e nestes casos deve ser explicitada a razão para não ser adotado um símbolo do IPA.

Fonemas refletem a representação abstrata que o fonólogo postulou a partir da análise realizada. Fonemas são unidades abstratas e portanto não pronunciáveis. Fonemas são representados entre barras transversais /…/ e são determinados a partir de pressupostos teóricos. Um fonema pode ter mais de uma pronúncia. Por exemplo: O fonema /l/ pode se manifestar foneticamente como [w] em final de sílaba (sal, salto) e como [l] em outros contextos (lado, placa, sala). Consulte a página Modelo Fonêmico para maiores informações sobre fonemas.

A figura que segue indica as diferenças entre a Fonética e Fonologia.

Sempre há mais símbolos [fonéticos] do que /fonológicos/ em qualquer língua. Isso porque fonemas podem apresentar mais de uma pronúncia como ilustrado no caso do fonema /l/ que pode se manifestar foneticamente como [w] ou [l].

O que acontece na Fonologia segmental?

  • Inserção: sons são inseridos
  • Cancelamento: sons são apagados
  • Mudança: sons mudam

A Fonologia EXPLICA como o sistema sonoro de uma determinada língua se organiza. A Fonética DESCREVE os princípios articulatórios e acústicos envolvidos na produção dos sons.

cLAsses FONOLóGICAs de SoNs

Vários termos usados pela Fonologia são também utilizados pela Fonética e até em sistemas de escrita. Um exemplo é o termo vogal que é adotado comumente nos três sistemas. Outro caso é o termo consoante.

Contudo, alguns termos são utilizados somente pela Fonologia porque eles se referem a classes de sons que têm relevância em sistemas fonológicos e não dependem estritamente da maneira que são produzidos. Exemplos de classes de sons são: líquidas, sibilantes, róticos, obstruintes, soantes. Estes são termos fonológicos.

Muitas vezes, a Fonologia faz referência ao contexto em que um som, ou classe de sons, ocorre. Por exemplo: início de sílaba, entre vogais, final de palavra, etc.

A Fonologia define como os sons se organizam em línguas particulares a partir da organização das classes de sons em cada língua.

FONOtática ou fonotaxe

Fonotática ou Fonotaxe é uma área da Fonologia que analisa as restrições na cadeia segmental das línguas. Ou seja, a análise fonotática explicita quais combinações de vogais são possíveis, quais as combinações de consoantes podem ocorrer e quais combinações de vogais e consoantes ocorrem.

As restrições fonotáticas são específicas de cada língua e definem quais sílabas podem ocorrer naquela língua. Assumindo que C representa consoantes e V representa vogais temos as seguintes sílabas possíveis no português:

As sílabas ilustradas podem ter outras vogais e consoantes no lugar das combinações exemplificadas na tabela acima. Contudo, algumas restrições segmentais ocorrem – existem critérios que definem quais sons ou segmentos podem preencher as posições de C e V.

Por exemplo, em sílabas do tipo CCVCC, como ‘trans’ na palavra ‘transtorno’, a segunda consoante da esquerda para a direita será [l] ou [ɾ] e a última consoante será sempre uma sibilante: [s] ou [ʃ].

Outra restrição fonotática do português é que o tepe [ɾ] não pode ocorrer em início de palavra, embora possa ocorrer em início de sílaba quando entre vogais (cara). O tepe também pode ocorrer em sílabas CCV (prato) ou no final de sílabas (carta) e de palavras (mar) em algumas variedades do português. Contudo, nem todas as consoantes do português podem ocorrer em sílabas CCV ou em final de sílaba e de palavra.

As restrições fonotáticas são portanto definidas especificamente para cada língua.

Contudo, todo sistema fonotático de qualquer língua será organizado a partir da combinação de vogais (V) e consoantes (C). 

As sílabas CV são ditas serem universais e assim é esperado que elas sejam atestadas em toda e qualquer língua.  

Boa-formação fonológica

As sílabas ilustradas acima na seção de Fonotática podem se combinar para formar palavras. Contudo, algumas restrições combinatoriais determinam quais sílabas podem ou não serem combinadas em uma determinada língua.

Por exemplo, no português uma sílaba que termina em vogal nasal não pode ser seguida de vogal oral, como, por exemplo [sãˈi] ou [põˈa]. Entretanto, sílabas que terminam em vogais orais podem ser seguidas de sílabas que se iniciam por vogais nasais: [aˈĩdə] ‘ainda’ ou [koˈẽtɾʊ] ‘coentro’.

Outro exemplo de restrição combinatorial das sílabas no português brasileiro define que quando uma sílaba termina em uma sibilante – [s] ou [ʃ] – como por exemplo em ‘desrespeito’ o ‘som de R’ que segue deverá ser [h] e nunca o tepe [ɾ].

As restrições combinatoriais das sílabas são específicas para cada língua e determinam a Boa-formação fonológica das palavras naquela língua