O modelo fonêmico é descrito em Pike (1947): ‘Phonemics: a technique for reducing languages to writing’ (Fonêmica: uma técnica para reduzir línguas para a escrita). Como o título indica, o objetivo do modelo era promover sistemas de escrita. O Modelo Fonêmico pode ser compreendido como um modelo estruturalista. Os principais conceitos da Fonêmica são explorados a seguir.
um sou vozeado e seu correspondente desvozeado | [p]-[b]; [t]-[d]; [k]-[ɡ]; [tʃ]-[dʒ]; [f]-[v]; [s]-[z]; [x]-[ɣ]; [h]-[ɦ] |
uma oclusiva e as fricativas e africadas com ponto de articulação idêntico ou muito próximo | [t]-[s]; [d]-[z]; [t]-[tʃ]; [d]-[dʒ]; [ʃ]-[tʃ]; [ʒ]-[dʒ] |
as fricativas com ponto de articulação muito próximo | [s]-[ʃ]; [z]-[ʒ]; [x]-[h]; [ɣ]-[ɦ] |
as nasais entre si | [m]-[n]; [m]-[ɲ]; [n]-[ɲ] |
as laterais entre si | [l]-[ʎ]; [l]-[lʲ]- [ʎ]-[lʲ]; [l]-[ɫ] |
as vibrantes entre si | [ɾ]-[ř] |
as líquidas (laterais, vibrantes e tepe) entre si | [l]-[ɾ]; [l]-[ř] |
sons com propriedades articulatórias muito próximas | [n]-[nʲ]; [nʲ]-[ɲ]; [ɲ]-[ỹ]; [ʎ]-[y]; [lʲ]-[y] |
Classes de SFS para as VOGAIS são:
Os SFS nas vogais tipicamente diferenciam uma ÚNICA propriedade articulatória.
O modelo fonêmico propões dois tipos de contraste:
Par de palavras que permite identificar fonemas.
V ____ V | contexto intervocálico (entre vogais) |
# ____ | início de palavra |
____ # | final de palavra |
____ + ____ | limite de morfema |
____ $ ____ | limite de sílaba |
Alofones são identificados após SFS não terem sido definidos como fonemas.
Exemplos:
Alofones podem ser livres ou contextuais.
6a. Alofones livres
Podem ocorrer no mesmo contexto, mas as palavras não tem o significado diferente (se as palavras tivessem o significado diferente os SFS então seriam fonemas).
Considere [h] e [x]. No português brasileiro palavras, como [ˈmah] e [ˈmax] ‘mar’ ou [ˈhã] e [ˈxã] ‘rã’ não apresentam significados diferentes quando o som [h] ou [x] ocorre.
Casos de variação livre foram estudados na Sociolinguística a partir da década de 70 como tendo correlatos sociais: idade, sexo, classe social, etc.
Como definir qual é o fonema que engloba os dois SFS que são alofones? Escolhe-se um dos SFS, seja [h] ou [x] e assume que ele representa o fonema: /h/ ou /x/.
Alternativamente, pode-se sugerir uma outra representação para o fonema, neste caso, por exemplo, pode ser /R̄/ (Cristófaro Silva 2010).
6b. Alofones contextuais
Ocorrem em contextos exclusivos. Onde um som ocorre o outro não ocorre.
Definem a distribuição complementar ou variação contextual (é o contexto que determina quando um som ou outro ocorre).
Considere [d] e [dʒ]. No português brasileiro, [dʒ] ocorre sempre seguido de [i] e [d] ocorre ‘Nos Demais Ambientes’ (NDA).
[dʒ] | [d] | |
seguido de [i] | adia, ditado, mordi | – |
NDA | – | dado, dedo, duro, drama |
A tabela mostra que sempre que [dʒ] ocorre logo em seguida ocorre um som [i]. Por outro lado, [d] ocorre seguido de vários outros sons, exceto [i].
Em casos de Distribuição Complementar, onde um som ocorre o outro não ocorre (contextos exclusivos):
Como definir qual é o fonema que engloba os dois SFS que são alofones posicionais na distribuição complementar?
Escolhe-se como fonema o alofone que tem distribuição mais abrangente. No caso de [dʒ] e [d] tem-se que [dʒ] é restrito ao contexto seguinte ser [i]. Por outro lado, [d] é abrangente: ocorre nos demais ambientes (NDA). Por ter ocorrência abrangente, /d/ é definido como fonema:
Lê-se: O fonema /d/ se manifesta como [dʒ] quando seguido de [i], e se manifesta como [d] nos demais ambientes (NDA).
Em uma distribuição complementar temos um fonema que se relaciona aos vários alofones.
Fonemas estão no nível fonêmico e são representados entre barras transversais. Alofones estão no nível fonético e são representados entre colchetes.
O formato de regra fonológica que segue foi utilizado no transição entre o modelo Fonêmico ou outros modelos estruturalista e o Modelo Gerativo.
Toda regra prevê que um fonema (entre barras transcersais) – que neste caso é /A/ – vai se transformar (a seta indica a transformação) em outro som – neste caso /B/, quando estiver em um determinado contexto que é indicado por ______ , e que neste caso é precedido de C e seguido de D.
Na regra acima, entende-se que: o fonema /A/ da descrição estrutural sofrerá a transformação e terá a mudança estrutural portanto se manifestando como o fone [B], no contexto que é precedido de [C] e seguido de [D].
No caso da alofonia contextual de [dʒ] e [d] discutida acima teremos a seguinte regra:
Na regra acima, entende-se que: o fonema /d/ da descrição estrutural sofrerá a transformação e terá a mudança estrutural portanto se manifestando como o fone [dʒ], no contexto que é seguido de [i].
A neutralização caracteriza que dois (ou mais fonemas) que estejam em contraste, perdem este contraste em contexto específico.
Considere as sibilantes [s, z, ʃ, ʒ]. Estes quatro SFS estão em contraste fonêmico que pode ser comprovado em palavras como ‘assa, asa, acha, haja’ ou ‘seca, Zeca, checa, jeca’. Portanto, são fonemas: /s, z, ʃ, ʒ/.
Contudo, no contexto posição final de sílaba o contraste fonêmico entre /s, z, ʃ, ʒ/ é perdido. Isso porque /s, z, ʃ, ʒ/ podem ocorrer no final de sílabas como [s, z, ʃ, ʒ] em exemplos como: mês, vesga, festa, mesmo.
Para representar a perda do contraste fonêmico em contexto ou ambiente específico fazemos uso de arquifonemas.
O arquifonema representa a perda do contraste fonêmico decorrente da neutralização e é geralmente representado por letra maiúscula. No exemplo ilustrado em que /s,z,ʃ,ʒ/ perdem o contraste fonêmico em posição final de sílaba a análise convencional do português sugere que represente-se o arquifonema por /S/.
Arquifonemas, em geral, são representados por uma letra maiúscula.
As transcrições fonêmicas apresentam estritamente fonemas e arquifonemas (ou seja, alofones contextuais e livres não estão presentes nas transcrições fonêmicas).
No caso da alofonia de [dʒ] e [d] temos que as pronúncias [ˈdʒiə] e [ˈdiə] ‘dia’ têm a mesma transcrição fonêmica: /ˈdia/.
No caso da neutralização dos fonemas /s, z, ʃ, ʒ/ têm-se que as pronúncias [ˈmes], [ˈmez], [ˈmeʃ] terão a mesma transcrição fonêmica com o arquifonema /S/: /ˈmeS/.
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Pratique este conteúdo fazendo os exercícios (ainda em fase de elaboração).